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domingo, 19 de abril de 2015

O primeiro impasse - continuação

Coloquei-me num abrir e fechar de olhos novamente no hospital e fui de imediato direccionado para a entrada do bloco operatório. Estava a minha esposa e uma senhora que também estava lá por causa da sua filha que ia ser operado a uma hérnia. O meu filho já tinha entrado e foi nos pedido para aguardar. Questionei prazo estimado e a enfermeira disse que cerca de uma hora, aguardavam só que um médico especialista chegasse. Cerca de 30 minutos, esse médico chega, comecei a contabilizar uma hora.

Para passar o tempo, coloquei conversa com essa senhora. Falou-me da filha, do motivo da cirurgia e quando olhei para o relógio, uma hora passara, a voz dessa senhora começou a perder volume, algumas palavras ecoavam mas não faziam sentido pois não ouvia a frase completa... eu não estava ali. Encontrava-me a pensar que essa hora já tinha passado mas não havia movimentos e nem nada que fizesse acreditar que tudo tinha terminado, encontrava-me com o coração a mil, com voz no meu cérebro a questionar se tudo estava a correr bem... e a voz da senhora continuava como se estivesse no fundo de um poço. Não saberia por onde o meu filho iria sair quando terminasse a operação e por isso que olhava como se estivesse perdido sem direcção possível. 

Nesse instante, vi uma enfermeira ao fundo com algo na mão, reagi logo e sabia que era ele... a enfermeira fez sinal e confirmou, o meu filho já tinha saído do bloco e ia agora para o recobro. Deslocamos-nos como se voássemos para finalmente ver o meu guerreiro. Estive até cerca das duas da manhã e vi que ele estava bem, a minha esposa estava também mais tranquila mas cansada. Decidi vir embora visto que dentro de poucas horas tinha que ir trabalhar.

Nessa altura trabalhava numa empresa onde tinha grandes responsabilidades e que nesse dia tinha que ir a uma reunião importante.

Tentei dormir mas mal me deitei, o despertador tocou. Enviei uma sms a minha esposa mas sem resposta.
Ainda dorme - pensei eu.

Já me encontrava a caminho desse reunião quando recebo um telefonema da minha mulher. Quando atendi percebi que algo se passava, encontrava-se assustada e perdida.

O que se passa? - questionei.

Os pontos rebentaram e sai algo estranho por lá e não tenho uma enfermeira que me ajude... não sei o que fazer.

Engoli em seco, não sabia o que dizer. Pedi que insistisse para que alguém fosse ajudá-la. Sentia-me imensamente pequeno, quase invisível por não poder ajudar. 

Passado uns minutos, contacto novamente. A minha esposa disse que o meu filho iria dar entrada novamente no bloco para verificar os pontos e levar nova anestesia.

Ao longo da manhã, fui comunicando várias vezes com ela e nas reuniões fazia um esforço para perceber o que se falava e não via a hora de sair dali... 

Já o meu filho tinha saído do bloco operatório, quando ia a caminho do hospital, aliviado por saber que ele se encontrava bem, preocupado por saber que a minha esposa não comera nada a algum tempo e também não tinha tido muito tempo. 

Finalmente cheguei. Não sai mais dali até por volta das onze da noite vieram dizer que tinha mesmo que ir embora. Naquela tarde, deu para que a minha esposa descansasse. Era esse o objectivo também visto que não sabia que noite é que ela tinha que enfrentar.

Vim para casa, o telemóvel manteve-se mudo até de manha. Aliviado de um lado, preocupado por outro, desloquei-me novamente acreditando que traria aqueles dois para casa... e foi isso que aconteceu. Desde esse dia, as noites mudaram. O meu filho dormia toda a noite, 12, 13 horas - um encanto para qualquer pai, era tempo de por o sono em dia :)

Finalmente o sossego chegou...


A felicidade que o homem pode alcançar, não está no prazer, mas no descanso da dor.

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