Páginas

quarta-feira, 22 de abril de 2015

O segundo impasse

O receio...

O receio da fatídica pergunta: Querem operar o vosso filho?

Não saberíamos responder. Não estávamos preparados para tal.

Nessa manhã, deslocamos-nos para a consulta que tanto ansiávamos durante aquele Verão de 2012. Recordo-me que era uma manhã bonita mas será que a noticia que iríamos receber correspondia ao dia?

Infelizmente, não.

Quando estávamos na sala de espera, eu olhava para todo o lado para verificar alguém que tivesse um filho/a com os mesmo problemas que o meu mas nada via e foi quando ouvimos soar no intercomunicador o nome dele... e entramos para aquele corredor que nos iria destinar o nosso futuro. A pulsação acelerou e ansiedade acompanhava.
Quando o médico viu o nosso filho disse de imediato, com uma frieza incalculável, que tinha que ser operado. 
A minha esperança morreu ali.
Começou a falar dos riscos da mesma, da necessidade de a fazer e invocava muitas vezes a palavra "certeza", uma palavra que ansiava ouvir mas não era aquele o contexto. Depois da explicação pormenorizada, viemos novamente para casa. Nesse dia nem fui trabalhar, não tinha condições para o fazer e ainda assimilava a "certeza". Fiquei em casa e foi nessa tarde que algo surgiu e aconteceu.

Uma explicação divina? 

Tocam à campainha.

Apercebi-me que eram comerciais porta a porta de uma empresa de telecomunicações e reparei que um deles tinha algo que me soava a familiar...um deles tinha trigonocefalia mas nunca fora operado. Decidi descer e ir falar com eles. Naturalmente, fizeram imensas perguntas mas para ser sincero, não as ouvia. Queria somente ver aquele rapaz.
Não era uma imagem boa de se ver, admito e isso levou-me a ter a "certeza" que o melhor para o nosso filho era a operação. Aquele rapaz era o nosso filho no futuro mas tínhamos nas nossas mãos o "poder" de mudá-lo. E se a incerteza ainda ecoava no meu cérebro, naquela tarde, acabou por desaparecer. Não tive coragem de perguntar ao rapaz, decidi guardá-la para mais tarde, saberia que ia precisar dela.

Fomos de férias na semana seguinte e apesar de tudo, foi uma excelente experiência. Fomos nas semanas seguintes novamente à consulta para entregar o TAC e tirar fotografias à cabeça. Pediram para aguardar pela última consulta antes da operação. 

Aguardamos impacientemente. A preparação para esse dia foi feita. Informamos como é que era feita a cirurgia, como iria ficar após sair do bloco operatório, os primeiros dias... mas não foi o suficiente.

Na 3ª semana de Novembro, recebemos o tão aguardado telefonema. Foi a uma terça feira e a consulta foi marcada para quinta feira. Estava agendado uma pequena reunião com o cirurgião e a recolha de sangue e assim foi.

Entramos para essa ultima consulta e a primeira pergunta que o médico fez foi:

"Querem operar o vosso filho, certo?" - aquela pergunta que tanto receamos na 1ª consulta mas que agora sabíamos como responder.

"Sim, queremos operá-lo. É o melhor para ele" - dizíamos isto com uma convicção tremenda mas a desmoronarmos por dentro. 

A operação teria lugar na segunda feira, dia 26 de Novembro, mas tínhamos que estar no hospital no dia anterior, no Domingo.

Nesse Sábado, todos os cuidados com o nosso filho era pouco, não queríamos que apanhasse nenhuma constipação, gripe, etc pois poderia por em causa a operação. 
Recordo-me nesse dia que havia muita tristeza dentro de nós, havia muita ansiedade e nada nos fazia deixar de pensar nessa operação, nem o sorriso no nosso filho. Quanto mais ele sorria, mais triste ficávamos,  era algo inexplicável. Fiz de tudo para tentar confortar a minha esposa mas era uma missão impossível.

Chegou Domingo, e depois da sesta do nosso filho, foi tempo de percorrer aquele "longo" caminho até ao hospital deixando para traz, familiares em lágrimas. Foi um momento doloroso...

Seguimos em frente, iríamos precisar de coragem...


A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.

Sem comentários:

Enviar um comentário