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sexta-feira, 24 de abril de 2015

O segundo impasse - continuação

Seguimos em direcção ao hospital, pelo caminho ainda conseguimos expressar uns sorrisos com o Bruno Nogueira (programa Tubo de Ensaio da TSF) mas à medida que nos aproximávamos do hospital, a tensão aumentava.

Depois de algumas horas de espera, finalmente somos conduzidos para a pediatria onde o nosso filho iria passar a noite. E assim foi, tive que me retirar e deixá-los naqueles contentores (sim, a pediatria era mesmo contentores, supostamente estavam a construir uma nova pediatria mas até à data não sinal dessa construção) onde o frio fazia-se sentir quase na totalidade. Como era de esperar, não conseguimos dormir nada. Eu porque estava preocupado e não parava de pensar na operação, a minha esposa a mesma coisa e pelo o barulho que se fazia sentir na pediatria.

26-11-2012

Chegou o dia, desloquei-me para o hospital. Supostamente, o nosso filho estava previsto ser operado ainda de manhã mas na realidade  foi somente operado a tarde. Os nervos e ansiedade tomavam conta de nós, saberíamos que o momento da entrega do nosso filho nas mãos da equipa técnica iria ser doloroso mas tínhamos que ter coragem, principalmente eu, tinha que transmitir tranquilidade à minha esposa, uma tranquilidade inexistente mas procurava a qualquer custo. 

Fomos chamados a entrada do bloco operatório e sabíamos que tinha chegado o momento. Aguardamos ainda cerca de meia hora e tivemos um apoio inconfundível de um membro da equipa que iria operar o nosso filho. Conseguiu tranquilizarmos um pouco perante o cenário que estava prestes a ocorrer. 

Chegou o momento...

A entrega foi um momento doloroso, como previsto. Parecia que estavam arrancar algo de mim mas tinha que ser.

O médico indica que a operação poderá demorar cerca de 2 ou 3 horas. 

Eram 15 horas.
Estimava-se que terminasse entre as 17 e as  18 horas. 

Fomos almoçar ou tentar almoçar.

Entretanto recebemos o apoio dos meus sogros que chegaram entretanto. Posteriormente do meu cunhado.

Eram 17 horas... Falta pouco, pensava eu.

Eram 18 horas. Não havia sinal da operação ter terminado. Aguardamos mais um pouco.

Eram 19 horas. O cenário era o mesmo. Consegui obter informação do motivo do atraso. Houve um imprevisto e a operação demorou arrancar. As horas seguintes foram preocupantes. 
Na cantina, conseguimos falar com um membro da equipa que se encontrava lá e conseguiu-nos tranquilizar dizendo que tudo estava a correr bem... mas o facto é que  ele ainda não tinha saído.

Eram 22.20. Recordo-me dessa hora. Não aguentava mais a espera. Sabia que tinha que agir. Desloquei-me para o corredor onde ia dar ao bloco operatório e encontrei uma senhora das limpezas. Era única pessoa que tinha autorização de entrar no bloco, ou perto disso. Expliquei a situação e a senhora fez um grande favor de entrar e de perguntar o ponto da situação. Voltou com uma cara sorridente informando que já estavam a sair e que tudo estava bem. Aliviado por lado mas ainda preocupado porque... não o via.


Passado alguns momentos, no horizonte surge algo. Era o meu filho. Instintivamente, desloquei-me para perto e com algum aperto. Era a imagem que esperava encontrar. A minha esposa tinha ficado para traz e foi autorizada a entrar. 

Ali estávamos nós, a ver o nosso filho com a cabeça 3x maior que o normal e aqueles olhos fechados com as pálpebras rosadas.

Não o queríamos largar e fomos com até à entrada dos cuidados intensivos. Foi-nos autorizado a dar um beijinho nele... foi um momento na qual não consigo exprimir e entrou na sala dos cuidados intensivos. Nessa noite tivemos que ir dormir a casa, na sala de espera não havia lugar para nós. Essa decisão foi uma das mais dolorosas que tive que tomar. A minha esposa não aceitava a ideia de o deixar sozinho mas também não podíamos fazer nada. 

A noite já ia longa quando fomos para casa. Por uma lado queria ir para casa para obrigar um pouco a minha esposa a descansar um pouco porque os dia seguintes estimavam-se difíceis.


A distância mais difícil de superada é a do costume: a psicológica, a que não permite abraços efusivos e brincadeiras, que paralisa e planifica os sentimentos com os anos de convivência.

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