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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Os meses seguintes...

Depois de passar a tempestade, foi tempo de repousar e aproveitar. Aos 2 meses e meio, como já estava grande de mais para ficar na alcofa, decidimos passar o nosso filho para o seu quarto. Ele crescia saudável e cheio de energia e começou a ter interesse pela televisão e desde ai, o canal com maior audiência aqui em casa era o Canal Panda :).
Era na cadeira de baloiço, era no parque, era na sala, o Panda estava sempre a "bombar". Havia momentos que já conhecíamos os episódios todos das séries apresentadas. 

Foi tempo de um baptizar e de lhe atribuir os padrinhos.  Seguíamos felizes até ao dia em nos lembramos de verificar o que a pediatra tinha escrito no seu livro. Com a confusão da cirurgia, nunca mais nos lembramos de consultar... estava tudo bem até surgir uma frase:

"Crânio com possível Trigonocefalia"

Não sabíamos o que era e decidimos ir ao nosso "médico online" -  Google. As primeiras imagens provocaram algum choque, todos aqueles bebés eram idênticos ao nosso filho.

Mas o que é isto? - perguntava eu incrédulo. A minha esposa começou a pesquisar mais sobre isso e descobriu que poderia ser muita coisa mas que também podia não ser nada. Confuso? Eu sei que sim mas resumindo:

A testa tinha um formato pontiagudo e que poderia ter solução de usar um capacete especial, para situação não muito acentuadas, ou a cirurgia...(mais informações no blogue http://karinaediegogoncalves.blogspot.pt/ )

Cirurgia? A palavra parecia como um murro no estômago. Não podia acreditar e nem queria mesmo acreditar, ao meu filho não - pensava eu. A cirurgia era muito arriscada e não era algo que tínhamos que decidir em "cima do joelho" como na primeira operação. Havia a possibilidade de operar através de um pequeno corte frontal mas essa era somente até aos 3 meses, mas já não ia a tempo. Estranhava na altura, as questões que a pediatra colocava sobre a forma da cabeça quando fomos aos 2 meses à consulta. Voltamos novamente a marcar uma consulta onde a mesma explicou que se houvesse algum familiar parecido, então era genético e não haveria a necessidade de operar. Descansamos um pouco e começamos a procurar por fotos de familiares, acreditando que era só mesmo um feitio da testa igual...

E era isso que queria acreditar... mas nunca tive essa prova.

A minha esposa andava ansiosa, desesperada e todos os dias encontrava-a a chorar. Tentava consola-la dizendo que tudo não passaria do mero formato e cheguei a dizer que eu também tinha esse formato mas aquele instinto maternal dizia-lhe que não... e dizia bem, infelizmente.

Começou a correria aos especialistas para que as certezas pudessem ser confirmadas e logo no primeiro tivemos essa triste notícia. 

Eu não queria acreditar e dizia sempre que não seria assim. Tentava enganar-me a mim próprio e já nem isso conseguia, estava demasiado evidente. 

Para que pudesse ser operado, teria que ser diagnosticado e para isso tinha que fazer o TAC e foi necessário pedir isso ao hospital publico. Esse pedido foi feito por mim quando dei entrada pelas urgências com o meu filho e pedi uma opinião à pediatra de serviço e a mesma disse aquilo que eu queria ouvir ocultando a verdade. Decidi na mesma pedir essa consulta para que seja visto por um especialista (era somente esse o motivo de ter entrado pelas urgências) e ficou registo com celeridade mas celeridade era só mesmo a palavra. Todos os dias a minha esposa ligava para o hospital a pedir ponto da situação sobre a marcação da consulta e diziam sempre que estava em análise e não passava daí. Deslocou-se pessoalmente ao hospital e a resposta era sempre a mesma. 
Um dia cheguei a casa ao meio dia e via-a numa angustia tremenda, olhava para o nosso filho e dizia que era evidente e não haveria a solução senão passar por uma operação de risco. Não sabia o que dizer, pois o que falava nada fazia sentido e somente ouvia-a. Farto daquela situação, decidi ir ao hospital naquele momento e recordo-me de dizer-lhe que era naquele dia que iria dar lugar a consulta olhando nos seus olhos vazios onde já não encontrava espaço para esperança...e foi isso que me motivou.

Depois de muitas voltas no hospital e de me ter chateado, consegui a consulta para aquele mesmo dia.
Vim a casa para buscar-los. Fomos atendidos por uma médica e que marcou de imediato o TAC. Também deu a sua opinião mas condicionada pelas nossas caras de angustia... achara que talvez não fosse necessário. Não queria dizer a certeza desta incerteza.
Umas semanas mais tarde, já com o TAC feito, fomos novamente à consulta. A médica voltara a dizer que para ela não operava mas ia pedir uma segunda opinião reencaminhando para outro hospital da especialidade... lemos nas entrelinhas que necessitava de ser operado.

Passamos um Verão complicado, cheio de incertezas sobre o futuro. Todas as noites falávamos nisso e eu negava sempre a necessidade de operar contrariando os que os meus olhos viam. No meio disto tudo, nasceu o seu primeiro dentinho que levou a que, por alguns momentos, o assunto da trigonocefalia, fosse colocado um pouco de lado. 

Cerca de um mês e meio depois, fomos chamados pelo hospital para marcar uma consulta.

Chegou a hora de saber a certeza...


A incerteza é uma margarida cujas as pétalas nunca acabam de desfolhar.

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