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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Uma dura realidade

No dia seguinte deslocamos-nos novamente para o hospital e fomos directos para os cuidados intensivos pediátrico (CIP). O nosso coração pulsava tanto que parecia que saia pela boca. A minha esposa entrou primeiro e aguardei impacientemente cá fora. Aproveitei para guardar lugar e tentar adaptar-me a uma nova realidade.

Cerca de uma hora mais tarde, a minha esposa saiu e chegou a minha vez. Já o tinha feito na noite anterior mas não me tinha apercebido o que se passava ao meu redor pois somente estava focado no nosso filho. Mas naquele momento, teria tempo para ver muita coisa. Aquele local era de um silencio abismal, somente ouvia-se alguns "bips" que iam surgindo. A temperatura bastante estável e controlada, cerca de 22ºC, e ali estava ele, rodeado de fios e tubos. Os seus olhos estavam bastantes inchados e a cabeça acompanhava. Era duro de encarar.
Estive bastante tempo ao lado do nosso filho e foi-nos aconselhado não falar com ele para que não entrasse num estado de ansiedade por não nos poder ver. Mas a realidade em redor era bem mais dura. O problema do meu filho não era "quase" nada comparado ao que estava ao lado. Um cenário de pura tristeza que não aconselhava a viver. Ficamos ali cerca de uma noite e o nosso filho teve que abandonar o CIP pois houve uma criança que teve que ser internada e não havia espaço. O nosso filho como era o único a melhorar, foi ele o escolhido. O cirurgião que o operou, discordava daquela acção pois dizia que precisava de, pelo menos, mais um dia mas não havia escolha.

Do silencio e da temperatura controlada, foi para para um barulho ensurdecedor e uma temperatura que atingia os 30ºC. Tivemos sorte que aquele quarto não tinha muita gente e as enfermeiras desligaram o Ar Condicionado e os únicos pais que lá se encontravam, saíram para que o nosso filho se adaptasse aquele novo meio. Foram dias bastantes difíceis e cansativos. Poderia descreve-los mas seria necessário muitas páginas mas o momento mais importante foi o dia em que o nosso filho abriu o olho. Expressou um sorriso somente por nos ver e isso foi algo que não iremos esquecer. Não foi nada fácil para a minha esposa que nesses dias quase não descansava pois dormir numa pediatria e ainda por cima em contentores, era tarefa impossível. 

Ansiávamos pela alta hospitalar mas somente seria possível depois do fim de semana. Tivemos o primeiro encontro com a cicatriz do nosso filho quando foi mudado as ligaduras e foi algo difícil de se ver. O medo de pegar nele foi ultrapassado e fez com que o inchaço dos olhos e cabeça começasse a diminuir... mas as dores continuavam. As enfermeiras deixaram de dar morfina e começou a ser dado doses cada vez mais reduzidas.

Finalmente tivemos alta e nós os 3 explodimos de alegria (sim nós os 3 pois o nosso filho exprimiu um sorriso de orelha a orelha e foi óptimo de se ver).

Resumindo esta página e o que pretendo dizer é que se um dia ficarem preocupados pelos os vossos filhos quando tiverem uma constipação ou gripe (vejo muitos a entrarem em colapso por isso), lembrem-se que há pais que sofrem todos os dias pelos seus por situações em que por vezes não tem solução. Que sofrem constantemente porque não sabem quando é que isto vai terminar... Não façam dramas por pequenos obstáculos mas agradeçam somente por terem aqueles para ultrapassar.

Todas a equipa da pediatria teve fantástica e fomos muito bem acolhidos e auxiliados. Deram tudo para que nos sentíssemos minimamente confortáveis e não faziam mais pois estavam limitadas pela estrutura em si.


A Realidade é o pesadelo do mundo dos sonhos

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