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domingo, 12 de julho de 2015

Birras

Após muitos meses onde o "mimo" era constante pelas razões já descritas aqui neste blogue, chegou a vez das ditas "birras".

Eram constantes visto que já não fazíamos tudo o que ele queria e o choro era sempre constante. Era difícil vê-lo assim e por vezes acabávamos por ceder, algo que nos deixava desconfortáveis. Começamos a habitua-lo que as coisas não eram como nós queremos, e apesar de não se expressar muito, ele percebia mas sabia que se "esticasse" um pouco, tinha o que queria.

Após algumas semanas de intensa luta, e de ameaças com o chinelo, chegou o momento do dito chinelo passar a acção. Foi um momento em que não me arrependo apesar de me ter custado no momento.

Neste momento, o chinelo, é sinal de respeito e quando passa das "marcas", recorremos ao mesmo e de facto, funciona.

Penso que cada pais sabem como lidar com as birras dos seus, acaba por ser um instinto mas quando estamos advertir os nossos filhos, é necessário explicar a razão do motivo da repreensão e mostrar que são amigos com gestos de carinho para que não se possa sentir menosprezado e no meio disto tudo, tentar não perder a calma e a paciência ( é o mais importante).
Admito que é um assunto complicado e neste momento, após um ano da primeira vez que o chinelo entrou em acção, ainda continuam as birras mas menos intensidade e acredito que ainda vão durar. Temos que ser solidários com a nossa cara metade pois esta é uma fase de muitos nervos e de quebras de paciência e temos que estar presente para segurar as "rédeas" :)

A paciência é amarga, mas o seu fruto é doce
  

domingo, 14 de junho de 2015

O valor do som

Dias passaram e o nosso filho parecia que não tinha sofrido qualquer cirurgia. Encontrava-se bem disposto dias depois e era com entusiasmo que o acompanhávamos no que fosse preciso. Deparamos  com uma diferença brutal no seu comportamento. De uma criança super inquieta passou a ser uma criança muito mais calma e atento a tudo o que o rodeava. Para onde fossemos, via-mos na sua cara, expressões de admiração e de apresso. Admirava a Natureza que o rodeava e escutava-nos com incrível atenção. Começou a reagir as musicas que davam no rádio e começou a exigir o que queria ouvir, e como devem adivinhar, para onde fossemos, tínhamos que ouvir musica infantil até à exaustão :) mas valia a pena pois conseguíamos pregar um grande sorriso estampado no seu rosto.

Quando saímos para um pequeno passeio a um parque natural, pensávamos que íamos correr atrás dele e que ficaria irrequieto mas nada disso se passou...um pequeno milagre, uma agradável surpresa que culminou com uma tarde em pleno junto da Natureza e a ouvir os Seus sons.

Foram momentos surpreendentes....

Fomos de férias e passamos uma excelente semana. Tivemos que ter cuidados redobrados por causa dos ouvidos. Tivemos que colocar uma protecção para evitar a entrada de agua e acabou por criar um cansaço  inevitável... pois o mar era a "menina dos olhos dele", não podia esperar na entrada da praia pois o desejo era tanto que criava "birras" e somente parava para comer... e era os meus 15 minutos de descanso :)... nestes dois anos de praia, a única vez que me sentava na praia era mesmo nessa pausa.

Será que este verão vai ser o mesmo? :) Quase de certeza que sim... depois de ser pai, acho que já não consigo descansar na praia como antes... mas tenho outras compensações :) e ser pai é isso mesmo!

A luz é o som e o sol uma orquestra

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O terceiro impasse

01 de Maio de 2014

Estávamos ansiosos, mais uma vez. As horas passavam demasiado devagar e o desejo de tudo isso terminar rapidamente parecia não se concretizar. O nosso filho continuava a tomar antibiótico para evitar nova otite e era algo que nos deixava bastante preocupados... aquela noite parecia uma eternidade, apesar de saber que era uma simples cirurgia. Os pensamentos eram constantes e por consequência submergiam sempre ao sono.

De repente, o despertador toca, eram...

02 de Maio de 2014, pelas 07:30

Simplesmente levantamos-nos visto que há muito estávamos acordados. 
Acordamos o nosso bebé e seguimos para o hospital. A hora de chegada estava marcada para as 08:30. Chegamos exactamente a essa e aguardamos numa sala pela chamada. O nosso filho seria a segunda criança a ser operada naquela manhã. 

Chegou a vez da primeira criança ser operada. A sua mãe tremia e notava-se ansiedade no seu olhar. A criança foi chamada e na entrega ambos caem em lágrimas e pairou no ar a tristeza. 

Chegou a vez do nosso filho. Não qualquer dificuldade em entregá-lo (pelo menos fisicamente) às enfermeiras pois ele sozinho seguiu todo contente pelo corredor fora até ao bloco operatório... mal sabia ele por ia.
Apesar de termos passado por isto duas vezes, esta entrega, foi igualmente dolorosa. 

Passado cerca de 5 minutos depois da entrega, a primeira criança tinha terminado a operação e a sua mãe foi chamada para o recobro. Já nos encontrávamos na sala de espera quando cerca de 30 minutos de o meu filho ter entrado, já estavam a chamar pela minha esposa... fiquei em contacto com ela via sms e informação que transmitia era que tinha corrido tudo bem mas que ainda dormia.

Perto da  hora de almoço, a minha esposa teve que sair para obviamente almoçar e trocou comigo. Estava ansioso por o ver. Quando cheguei perto dele, vi uma criança normal que pulava e ria como nada se passasse. De volta, somente via crianças a vomitar e a chorar. 

Será que operaram mesmo o meu filho? - pensei eu. A ultima vez que o vi, foi com esta satisfação que se encontrava naquele momento. 
Mas algo me chamou atenção... reagiu a um pequeno som vindo da televisão que ali se encontrava ligava com o som no mínimo. Eu quase não ouvi o som mas ele de imediato reagiu à música da Xana Toc Toc que ali estava a dar no canal Panda coisa que em casa não o fazia.

Algo estava diferente e isso alegrou-me e deixou-me bastante mais tranquilo só faltava aguardar pela alta hospitalar e seguir para casa como uma família feliz.

Essa alta não tardou e seguimos para uma nova etapa e mais um novo desafio mas sempre a questão no pensamento:

"Será que agora ficará tudo bem?"


A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás, mas só pode ser vivida, olhado-se para a frente.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Uma nova operação?

Como estava a recuperar de uma forma excepcional, decidimos colocar o nosso filho na creche mais cedo do que previsto. Inicialmente, estava prevista a a sua inserção em Outubro de 2013 mas acabamos por colocá-lo em Setembro de 2013, cerca de uma semana após o começo do ano lectivo. Era com alguma expectativa que aguardávamos por esse momento. Um mundo diferente e com regras diferente iria abraçá-lo e podia não ter um bom começo. Surpreendentemente, não houve qualquer dificuldade de adaptação. Essa fase, contou com ajuda com uma educadora de ensino especial (ELI) que pacientemente o colocou a almoçar sozinho e a comer fruta natural pela sua própria mão. Foi um grande passo para o seu desenvolvimento e comer nunca foi problema para ele :)

O mundo da creche era algo que iria ajudá-lo a ultrapassar algumas dificuldades que até à data sentia e a socialização com outras crianças iria trazer benefícios para o seu comportamento. Tudo corria bem até à primeira virose "escolar" como uma "tite" qualquer que não recordo o nome e por consequência uma Otite. Isto aconteceu quando já decorria o mês de Outubro.

As otites não eram novidade visto que já tinha tido algumas anteriormente mas sem significância. Só começamos a preocupar quando as mesmas começaram a ser reincidentes e com consequência disso, a toma de antibióticos que, como sabem, faz bem a umas coisas mas faz bastante mal a outras. Eram umas atrás das outras e não havia tratamento possível para impedi-las... e foi quando nos falaram em operação.

Operação? Uma nova operação? - pensava eu, incrédulo. Foi algo que,mais uma vez, não queria acreditar e pensava que haveria alternativas que não passassem por uma nova cirurgia... e anestesias.
Chegamos ao novo ano de 2014 e já o nosso filho coleccionava 5 otites em menos de 4 meses. 

Era preocupante.

Esta situação estava a dificultar o seu desenvolvimento visto que desconfiávamos que a sua audição estaria a ser afectada. Foi encaminhado para fazer os testes auditivos e comprovou-se o pior... 

...o nosso filho necessitava mesmo da cirurgia. Encontrava-se totalmente surdo de um ouvido (líquido no ouvido) e o outro estava a meio termo.

Tomei consciência que a única alternativa era mesmo a operação e resolvemos colocar pressão sobre os profissionais de saúde visto que as otites não paravam e nesse momento já tinha chegado as 10. 

Foi colocado de imediato em lista de espera...mas a operação estava prevista para Outubro de 2014 e com este andar, o nosso filho estaria a tomar antibiótico até essa data. 

A minha esposa decidiu enviar um email para o hospital para tentar mostrar a gravidade da situação e, com alguma surpresa, responderam marcando uma reunião.

O resultado dessa reunião foi ao encontro daquilo que pretendíamos....o fim disto tudo.

A cirurgia ficou marcada para 02 de Maio de 2014.


Tudo tem começo e meio. O fim só existe para quem não percebe o recomeço

quinta-feira, 7 de maio de 2015

A grande recuperação

Os meses foram passando e o assunto cirurgia já quase não entrava  no nosso dia a dia. Cada dia que passava, a recuperação era notória... mas somente a partir de 5/6 meses após a operação. 
Inicialmente, as noites eram complicadas e o nosso filho chorava constantemente e não sabíamos como agir. Quando começou a ter interesse em andar e a esforçar-se  para se colocar de pé, foi começando a dormir melhor e acabou por conseguir dormir noites seguidas. Iniciou a fisioterapia para começar a andar visto que para os pediatras tornava-se preocupante o nosso filho não andar aos 14 meses (enfim). Começou a sua batalha com os desequilíbrios constantes que mais parecia que tinha bebido um bom tinto maduro :)
Foi uma fase onde as minhas costas andavam sempre curvadas pois como queria caminhar, tinha que andar de mão dada para onde ele queria ir... e no final quem precisava de fisioterapia era eu :). Valeu a pena esse esforço e dedicação pois cerca de um mês e meio já caminhava sozinho e corria pela casa todo contente. 

Tudo isto muito lindo mas quando tivemos que ir a casamentos, eram autenticas maratonas percorridas e litros de suor libertados. Dias cansativos mas o que interessava era vê-lo sempre contente e bem disposto a fugir de nós :)

Chegou as férias de Verão e o nosso filho sentiu uma liberdade enorme quando chegou a praia...se me queixei nas maratonas nos casamentos, aqui somente dizia "Quem me dera estar num casamento, ao menos não corria tanto" :)

Era constantemente corridas na areia de um lado para o outro e para cima e para baixo, quando chegava à noite, era o pai e o filho, um para cada lado a dormir :)
Foram momentos maravilhosos que facilmente fez esquecer as dificuldades do passado e que em 8 meses, a sua recuperação fora fantástica... 

O segredo da fórmula é sempre acreditar que o vosso filho consegue e nunca desistir desse pensamento e foi isso que fiz e temos feito no nosso dia a dia.

Ultrapassar os limites não é um erro menor do que ficar aquém deles

domingo, 3 de maio de 2015

O valor da amizade

Estávamos já no novo ano e começamos a preparar a sua primeira festa de anos. Esta festa serviria, de um modo geral, agradecer às pessoas o apoio incansável que nos foi facultado quando fez a segunda cirurgia. Houve pessoas que até promessas fizeram de ir a Fátima a pé e nunca tinham conhecido o nosso filho. Era esta a nossa oportunidade de mostrar o quanto agradecidos ficamos.

Começamos a fazer uma lista de convidados e começamos a contactar as pessoas para verificar a disponibilidade e qual foi a nossa surpresa que todas a gente aceitou. Havia pessoas que tinham viagens marcadas para esse dia e fizeram  questão de desmarcar somente porque queria ficar com o nosso guerreiro, o herói de palmo e meio. A lista estava preenchida e completa, o seu número de convidados rondavam as 100 pessoas. Tomamos consciência do universo que nos rodeava.

A festa teve inicio e os convidados começaram a chegar e todos queriam ver o guerreiro e como já se esperava, foi o centro das atenções sem o mesmo ter consciência do que realmente se passava. A casa estava a ficar composta e cheia, o dia até convidava a dar um passeio e ajudou imenso para que esta festa fosse entregue ao total merecimento de um grande OBRIGADO.

Houve reencontro de muitas pessoas que não se viam há muitos anos e acabou por criar esse simbolismo também. 

Para esse dia, criamos um vídeo para demonstrar um pouco seu primeiro ano de vida, foi o ponto alto, onde muitos tiveram uma pequena amostra daquilo que o anfitrião tinha sofrido e lutado. Várias reacções foram suscitadas mas todas automaticamente foram anuladas pois a sua frente estava aquele que superou aquelas imagens estampadas na tela, era essa a grande alegria que todos transportavam no coração.

Como hoje é dia da mãe, quero felicitar todas as mães que lutam todos os dias pelos seus filhos  para que sejam simplesmente os nossos filhos... e em especial à incansável da minha esposa. Que todos os dias dedica-se no seu melhor e nunca desiste de nada para somente ver um sorriso no rosto estampado do nosso filho... é a única retribuição que pede.


Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado dos amigos,com certeza que vai mais longe.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

O seu primeiro Natal

O que mais ansiávamos era ver o nosso filho em casa e poder cuidar dele sem qualquer restrição. As primeiras semanas foram complicadas. As dores deveriam ser insuportáveis mas nada impedia de ser uma criança feliz, apesar de tudo.

Começou a aproximar-se o Natal e a adaptação de uma nova realidade foi adquirindo forma. Compramos um capacete para que pudesse proteger das quedas, que se acontecesse nestas primeiras semanas, poderia comprometer toda a cirurgia mas felizmente nada disso aconteceu. A sua nova testa parecia fora de medidas mas tinha um motivo, o nosso filho já tinha uma testa de adulto.

Esta cirurgia deixou o nosso filho com imunidade reduzida ou quase sem nada devido as transfusões de sangue. Teve várias recaídas sob bronquiolites que o deixavam bastante mal e claro está, nós num estado de sofrimento. 

Natal

Uma época direccionada para as crianças e de consumismo para os pais (é assim que vejo o Natal). O nosso filho recebia as suas prendas mas alegria em desembrulha-las era dos pais pois ele não tinha consciência daquilo que o rodeava. Simplesmente queria vê-lo a rasgar um papel de embrulho mas não o fazia... mas estava feliz por ele estar connosco, e agora simplesmente teríamos que ajudá-lo nesta recuperação.   

Por isso este tópico acaba por ser pequeno visto que a nossa preocupação diária era ajudá-lo a minimizar as dores e protegê-lo. A época natalícia terminara e chegou o ano novo.

Brindamos a um novo ano cheio de esperança e relembrar o melhor que o ano transacto trouxe, o nascimento do nosso filho!!!
O único desejo para esse ano foi a rápida recuperação, nada mais importava.


A esperança não é um sonho, mas uma maneira de traduzir os sonhos em realidade