Depois de algumas noites mal dormidas no hospital, chegou a vez de ir-mos para casa e relaxar um pouco (pelo menos pensava eu). A primeira noite somente conseguimos adormecer às 6 da manhã, não sei se hei-de chamar a primeira noite ou o primeiro dia :) mas conseguimos adormecê-lo porque afinal de contas tinha frio e não nos apercebíamos disso. Felizmente um de nós teve a brilhante ideia de ir buscar um aquecedor e graças ao seu calor, adormecemos os 3 como anjinhos.
Deixo aqui um conselho para os papás e futuro papás, se o vosso filho/a nascer em pleno Inverno, aqueçam muito bem o quarto. Eles estão acostumados no quentinho e é natural que inicialmente rejeitem o frio :)
Depois da primeira descoberta (mantê-lo aconchegado), foi a altura de saber que tipo de leite ele gostava e acreditem que essa descoberta foi um pouco sonâmbula, pelo menos para mim que tive que me deslocar algumas madrugadas à farmácia para comprar uma lata de leite. A minha esposa não produzia leite suficiente para o guloso e era necessário um suplemento. Infelizmente não tinha-mos a D. Alice do Intermarché mas tínhamos um farmacêutico sonolento que nos abria a porta :).
O mais estranho é que passado cerca de 2 meses, começava a rejeitar os leites e vomitava constantemente o que levava a pensar que não gostava do leite ou que era intolerante a alguma substância mas eu comparava as latas mas aquilo para mim era tudo igual e já não sabíamos o que fazer. O vomito trazia um cheiro que não era muito característico dos vómitos "normais" (se é que me percebem), trazia um cheiro estranho e pensávamos que era da marca do leite. Essa fase coincidiu com a consulta dos 2 meses e era algo anotar para perguntar à pediatra. Entretanto a minha esposa escorregou e teve que ir às urgências e aproveitem para levar o meu filho às urgências também. Expliquei a pediatra das urgências o que se passava e fizeram alguns exames mas nada detectaram. Acreditem que quando as vossas amadas disserem que andar com o menino no "ovo" de um lado para o outro é cansativo, acreditem piamente. De mudar fraldas, de dar biberão e deslocar-se as salas de exames, foi tarefa complicada. O mais ainda foi quando espetaram uma agulha no meu filho para tirar sangue para amostra e foi como se tivessem espetado a mim, foi doloroso ver isso. Os resultados vieram e nada a detectar, mandaram-me aguardar cerca de duas horas e se ele voltasse a vomitar (que entretanto já o tinha feito), que pedisse que entrasse novamente. Aguardei essas duas horas, entretanto, a minha esposa também teve alta e já tinha passado cerca de 3 horas e verificamos que ele não tinha vomitado o leite que lhe tinha dado e quando peguei nele para ir para casa, vomita tudo, novamente.
Entramos novamente nas urgências e expomos a situação à pediatra. A mesma achou normal e nem com a minha esposa a insistir por fazer uma ecografia voltou voltou com a palavra atrás.
Instinto maternal, será que existe?
Vencidos pelo cansaço, decidimos aceitar aquilo que a pediatra explicara e fomos para casa. A consulta dos dois meses era no dia seguinte...
12-04-2012
Chegou o dia, finalmente. Já andava um pouco cansado de várias noite sem dormir a ouvir choro e vómitos, o que não era muito agradável. Digo finalmente porque pensamos sempre que os pediatras tem sempre alguma solução e que no imediato pudessem travar com esta angustia. Entramos na sala e a pediatra colocou algumas questões e disse que era melhor fazer uma ecografia para avaliar melhor essa situação do vómito. E assim foi, deslocamos-nos para o andar inferior para fazer a ecografia.
A técnica de ecografia não conseguia detectar qualquer problema também pois afirmara que o estômago estava vazio e pediu a minha esposa para lhe desse de mamar. Voltou a colocar a sonda e indica que era o "piloro" (palavra estranha aquela) e que não estava a abrir e nem a fechar. A minha esposa perguntou aliviada à técnica qual era a solução, medicação?
Não mamã, operação!!!
O instinto maternal existe...
Aquela palavra foi como um murro no estômago, angustia de ver as lágrimas a caírem pela cara da minha esposa e eu sei puder fazer nada, incrédulo, coloquei novamente a questão e a técnica apercebeu-se que não sabíamos o verdadeiro motivo daquela ecografia. Lamentou o facto de ter dado aquela noticia pois pensava que tínhamos sido alertados pela pediatra. Fomos para o andar superior e entretanto já tínhamos decidido operar no hospital publico. A pediatra confirmou e escreveu mais algumas coisas no livro dele e fomos directos para o hospital pois a situação era urgente. Chegamos ao hospital com a confirmação de que tinha que ser operado ao Piloro mas insistiram que que tinha que fazer nova ecografia.
Era cerca da uma da tarde e disseram que não poderia comer nada... ele já chorava com fome.
Aguardamos impacientemente...
Era cerca das 4 da tarde e ainda não tinha sido chamado, o meu filho chorava com fome e já não sabia o que fazer, tinha vontade de gritar e de entrar numa sala e fazer eu a ecografia, mas o meu eu dizia que tivesse mais um pouco de calma e cedi aos meus instintos.
Foi chamado e foi confirmado. Tinha que ser operado com urgência.
Foi colocado numa sala para aguardar a chamada, inicialmente estávamos os 3, a minha esposa estava impossibilitada de caminhar devido à queda do dia anterior. Mas um de nós tinha que abandonar, era as regras do hospital. Eu sai.
Comunicava com a minha esposa por sms e as noticias nunca melhoravam e pioravam cada vez mais. Ele chorava com fome e ela não o conseguia calar, era cerca das 6 da tarde.
Decidi entrar e chamar atenção das enfermeiras.
Façam algo, não vou fazer nada para o calar - dizia eu. As enfermeiras pediam que mantivesse a calma pois a sala não estava vazia. Como poderia ter calma se o teu filho chorava com fome e não comia desde das 10 da manha - pensara eu. Decidi insistir que agissem de imediato, questionei onde se encontrara o responsável e frisei que somente me calava se alguém aparecesse.
O segurança foi chamado mas não quis intervir. Deu razão a mim e decidiu não ver nada e fechar a porta da sala.
Finalmente apareceu o director geral, o médico que iria operar o meu filho. Tentou acalmar-me mas sem sucesso. Pedi a ele que acalmasse o meu filho primeiro. Decidiram colocar a soro e ele ai acalmou.
O médico conversou comigo, informou que talvez naquela noite não iria ser operado mas que no dia seguinte era com certezas. Poucas horas depois, subimos para um quarto onde iria aguardar ali a noite. Como somente um pai poderia ficar, decidi eu vir embora...
Era cerca das 10 da noite....
No caminho para casa, naquele silêncio, ao ver a imagem do meu filho ligado a uma sonda pelo nariz, senti que uma enorme tristeza e uma enorme raiva de não ter conseguido ajudá-lo... a emoção apoderou-se de mim.
Poucos minutos de ter chegado a casa, recebo um telefonema da minha esposa...
Vão operá-lo agora, anda já....
Considerar a nossa maior angústia como incidente sem importância, não só na vida do universo, mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria.